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Mosaico E A Filosofia Do Sagrado
Mosaico e a Filosofia do Sagrado
Porque o mosaico é utilizado desde tempos imemoriais para demarcar espaços sagrados.
Conceitos:
Sagrado (do termo latino sacratu) refere-se a algo que merece veneração ou respeito religioso por ter uma associação com uma divindade ou com objetos considerados divinos.
Os Objetos sagrados são considerados dignos de respeito e devoção espiritual, ou que inspiram temor ou reverência entre os crentes de um determinado conjunto de ideias espirituais.
O sagrado é todo e qualquer objeto (abstrato ou concreto) ao qual se atribui um poder, uma força sobrenatural capaz de realizar aquilo que os homens julgam impossível e de interferir ou, até mesmo, comandar os acontecimentos naturais.
Sagrado deus - A palavra "sagrado" provém do termo latino sacrum, que se referia aos deuses ou a alguma coisa em seu poder. Foi geralmente concebido especialmente como referindo-se à área em torno de um templo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Sagrado
Introdução
Desde os tempos mais remotos a demarcação de locais sagrados é feito com a junção de pedras ou fragmentos de pedras. Desde os templos mais significativos a pedra é deslocada com o emprego de grandes esforços tanto individuais como coletivos como no templo de Gobekli tepe que se encontra onde hoje é aTurquia por volta de 10.000 a.c.
Possivelmente, a necessidade de manter durante anos um grande grupo de pessoas no mesmo lugar - imprescindível para talhar as pedras, transportá-las e erguê-las - foi precisamente o que impulsionou a passagem do antigo nomadismo para o sedentarismo.
O conjunto da figura acima demonstra que as sociedades da época, que apenas deixavam para trás a fase de caçadores-coletores, já eram capazes de se organizar para construir enormes monumentos.
O fato de deixar a fase de caçador-coletor em razão da grande revolução do modo de viver, inicia o modo vivendi com certo grau de sedentarismo. Esse novo modus vivendi trouxe uma mudança filosófica estrutural: A relação com um território demarcado. Agora a terra é propriedade de um grupo de pessoas, de uma tribo e a idéia da posse se torna real.
Desde os tempos anteriores, onde a religiosidade se resumia à proto-religião do xamanismo, onde os xamas e chefes invocavam as energias da natureza para que aparecessem os frutos e os animais, não existia um domínio do homem sobre a natureza, portanto não havia a culpa de usurpar de “Deus” uma parte de sua criação. Mas agora com o advento do neolítico tomar um território para cultivar culturas ou criar animais se torna um novo modo de viver. E o que fazer com a culpa? A culpa de perceber que a natureza está mudando e que a nossa intervenção pode leva-la ao colapso culminando na derrocada da própria humanidade?
A culpa começa por ser aplacada com uma contrapartida aos “deuses”, concentrando forças coletivas destas sociedades para a construção de templos onde as forças sobrenaturais seriam aclamadas para manter o equilíbrio da natureza.
Para que o espaço seja considerado sagrado é necessário um misto de coisas especiais e raras: Trabalho duro de milhões de horas de trabalho, materiais raros e duráveis e montagem geométrica especial. Somente com a força do conjunto da tribo torna-se possível transportar pedras especiais que vem de um local longínquo. Além disso, o coletivo possibilita talhar as pedras em formatos de animais e plantas e coloca-las no local com a coordenação de uma espécie de “arquiteto do sagrado”, que diz para o coletivo como a obra deve ser geometricamente montada. No Stonehenge (Inglaterra, cerca de 3100 a.c.) a obra orienta-se para o solstício de inverno e no Gobekli Tepe a obra é montada sobre a figura de um triângulo equilátero.
Após as primeiras construções templárias e os primeiros ritos, no décimo milênio antes de cristo, se desenvolve no ser humano, uma vontade inovadora de buscar a permanência também espiritual. Assim como a permanência agora territorial e física trouxe um bem estar físico, a permanência espiritual traria então um bem estar espiritual inclusive no tão temido pós morte. A espiritualidade também toma um novo objetivo com a diminuição das ameaças físicas do dia a dia. O sagrado os poucos deixam de ser deuses da natureza que devem ser agradados para não sofrer em vida ameaças como falta de alimento, ataques de animais, cobras, infertilidade, etc.. mas um novo divino que se adora para se manter seguros na convivência do bem e se manter vivo e confortável no outro lado desconhecido do pós morte. Essa migração não é definitiva no momento dos primeiros assentamentos neolíticos, mas uma construção filosófica que levará anos culminando no monoteísmo.
O ser humano percebe que a sua imortalidade física é impossível, mas a permanência da sua cultura em um território é o seu fruto, é uma parte de si em cada descendente. Além disso, aquilo que foi construído permanece ao longo do tempo, principalmente por ser edificado com pedras, material por natureza “eterno” (na concepção do homem neolítico). Dos matériais da natureza o mais duro e também durável é a pedra (lat. Durum), um material com alta resistência à entropia.
Na permanência das suas obras, os seres humanos percebem que o que é construído fisicamente e culturalmente permanece, de modo que se passa a ansiar coletivamente por uma eternidade das suas obras visto que a eternidade física, além de impossível, no fundo, não dá nem sentido à vida. Daí a importância de construir estes locais de encontro com o divido e embeleza-los com as técnicas ditas como sagradas. No caso do mosaico, por ser uma representação artística feita com pedras é considerada uma técnica com um maior “coeficiente de sagrado” na arte, pois as pedras são “eternas”. A eternização é o bem maior daquele que deixa a existência, assim como a eternização de sua alma que se dará com a sua morte, onde passará a viver uma vida igual à desfrutada aqui na terra, porém eterna (conforme os egípcios).
O conceito de eternidade espiritual vai evoluindo à medida que a sociedade se desenvolve e solicita aos seus participantes que não apenas façam os seus rituais aos deuses mas que também passem a se comportar de maneira elevada ética e espiritualmente. Assim, o cidadão e fiel pode ser aceito para o convívio no além, sendo esse modo de pensar a base de todas as culturas espirituais da leitura.
Leitura: Genesis 28 – 10 a 20 – O sonho de Jacó em Betel
E Isaque chamou a Jacó, e abençoou-o, e ordenou-lhe, e disse-lhe: Não tomes mulher de entre as filhas de Canaã;
Levanta-te, vai a Padã-Arã, à casa de Betuel, pai de tua mãe, e toma de lá uma mulher das filhas de Labão, irmão de tua mãe;
E Deus Todo-Poderoso te abençoe, e te faça frutificar, e te multiplique, para que sejas uma multidão de povos;
E te dê a bênção de Abraão, a ti e à tua descendência contigo, para que em herança possuas a terra de tuas peregrinações, que Deus deu a Abraão.
Assim despediu Isaque a Jacó, o qual se foi a Padã-Arã, a Labão, filho de Betuel, arameu, irmão de Rebeca, mãe de Jacó e de Esaú.
Vendo, pois, Esaú que Isaque abençoara a Jacó, e o enviara a Padã-Arã, para tomar mulher dali para si, e que, abençoando-o, lhe ordenara, dizendo: Não tomes mulher das filhas de Canaã;
E que Jacó obedecera a seu pai e a sua mãe, e se fora a Padã-Arã;
Vendo também Esaú que as filhas de Canaã eram más aos olhos de Isaque seu pai,
Foi Esaú a Ismael, e tomou para si por mulher, além das suas mulheres, a Maalate filha de Ismael, filho de Abraão, irmã de Nebaiote.
Partiu, pois, Jacó de Berseba, e foi a Harã;
E chegou a um lugar onde passou a noite, porque já o sol era posto; e tomou uma das pedras daquele lugar, e a pôs por seu travesseiro, e deitou-se naquele lugar.
E sonhou: e eis uma escada posta na terra, cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela;
E eis que o Senhor estava em cima dela, e disse: Eu sou o Senhor Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que estás deitado, darei a ti e à tua descendência;
E a tua descendência será como o pó da terra, e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra;
E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque não te deixarei, até que haja cumprido o que te tenho falado.
Acordando, pois, Jacó do seu sono, disse: Na verdade o Senhor está neste lugar; e eu não o sabia.
E temeu, e disse: Quão terrível é este lugar! Este não é outro lugar senão a casa de Deus; e esta é a porta dos céus.
Então levantou-se Jacó pela manhã de madrugada, e tomou a pedra que tinha posto por seu travesseiro, e a pôs por coluna, e derramou azeite em cima dela.
E chamou o nome daquele lugar Betel; o nome porém daquela cidade antes era Luz.
E Jacó fez um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer, e vestes para vestir;
E eu em paz tornar à casa de meu pai, o Senhor me será por Deus;
E esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo.
Gênesis 28:1-22
Mosaico de Saqqara (Egito, sec. 3500 a.c.) –
Uma ponte para a eternidade
O mosaico de Saqqara é a representação orgulhosa de uma grande conquista de arquitetura e engenharia: os arcos de pedra dos pavilhões reais do complexo da cidade de Saqqara. Pela primeira vez no mundo, um arquiteto (Immotep) tem força de vontade para tentar construir um prédio inteiramente em pedra, até mesmo o telhado. Fez estudos e maquetes de altura das colunas e do telhado em pedra autoportante, e isso foi um grande sucesso para a humanidade.
Além dos edifícios de pedra, em Saquara há a primeira pirâmide construída e a primeira cidade murada. Esta muralha tinha 23 portas falsas e uma porta aberta. Naquela época, um faraó só podia permanecer 7 anos no poder quando o cargo deveria ser passado para outro membro da família. Mas seu arquiteto e vizir, novamente o próprio Immotep, teve uma grande ideia: se o faraó desse 7 voltas no sentido anti-horário fora dos muros da cidade, o deus Amon restauraria sua juventude de 7 anos atrás. Deste modo, criou-se um ritual que, assistido por toda a comunidade, fazia o faraó permanecer no poder para sempre. Assim. tem-se nesse episódio um dos primeiros casos de corrupção religiosa na história do Egito que se conhece.
A representação dessa conquista arquitetônica foi representada no mosaico de cerâmica majólica, que representa precisamente esta história: o faraó correndo no sentido anti-horário e recuperando a juventude, fora das muralhas da cidade, com os pavilhões de estrutura e cobertura de pedra vistos de dentro pela única porta aberta.
Outros detalhes interessantes: Esse mosaico é uma substituição intencional das tapeçarias que eram feitas com folhas de bananeira naquela época. Da mesma forma que os prédios de madeira foram substituídos pelos de pedra, as tapeçarias em material vegetal foram substituídas por uma em cerâmica (mosaico). Assim, novamente percebe-se a busca da eternidade nos materiais, típica da antiga cultura egípcia que certamente quer se eternizar através de práticas como a mumificação.
Para entender melhor a representação artística dos pavilhões, deve observar-se o modo como os egípcios representam um conjunto de quatro colunas em perspectiva, conhecido como o amuleto Djed. Observe que os pavilhões são representados na mesma perspectiva lógica da coluna Djed.
Coluna Djed
A espiritualidade da arte do mosaico
A transformação do material bruto do mundo
No batismo católico acontece um evento espiritualmente rico. Naquele momento o fiel é “quebrado”, morre e renasce de outra forma mais bela, sendo que o que faz valer o renascimento é o viver diário da nova vida. O mosaico resguarda esta semelhança, quando o fragmento é quebrado intencionalmente através dos dons humanos e divinos manifestados na vocação e tomam uma nova forma agora “eterna”.
A espoliação do homem velho se torna reconstrução. Da mesma forma, no neolítico a sociedade passou por uma espoliação da forma de viver em pequenos bandos andarilhos para uma nova forma onde a sociedade aumentou e aderiu à terra e se viram necessários novos modos de estruturas sociais com maior complexidade de organização e novas necessidades espirituais onde o homem uma vez dominando a terra e tendo o “poder” de estender mais a sua vida se pergunta: e depois?
No mosaico o trabalho duro da destruição da pedra em fragmentos tido como eternos e o rearranjo de tais peças a tornam uma arte especial. A pedra, material da natureza, duro e de difícil trabalho é digno do sagrado, pois é especial, raro e perene.
Mosaico de Pe Rupnik e sua equipe do instituto Aletti na catedral de Castanhal - PA
A união dos fragmentos
O mosaico é um microcosmo do macrocosmo, é uma forma de representar como Deus cria as coisas, através da junção de pequenos fragmentos, que unidas por uma lei da física através de uma energia geram um todo coeso e unitário através da junção de seus fragmentos.
Hoje a ciência descobre cada vez mais partículas dentro das pequenas partes de uma molécula, que geram a própria vida através das diversas leis que regem os átomos que compõe as vidas mais simples até as mais complexas. Desse modo, o mosaico apresenta-se como uma metáfora da complexidade da formação da vida, composta por infinitas partes menores que compõe harmoniosamente o todo através de leis de harmonia e equilíbrio.
Desde os tempos primordiais, percebe-se que essa junção divina dos elementos com as forças das energias, mesmo que não profundamente compreendidas pelo homem da época, era um modelo macrocósmico para o microcosmo do mosaico. Ou seja, a junção de fragmentos (maior parte minerais) sob o efeito de um colante sobre uma base que os mantém unidos (fragmento, colante e base). Essa trindade reproduz a trindade divina da criação do cosmos: Matéria, energia, ambiente.
A trindade também é vista na abstração da comunidade, pois somos elementos individuais ligados por relações sobre uma mesma sociedade.
“Em Basílio a vida comum parece surgir do desejo de viver a fé entre amigos, em comunidade na qual a genuinidade da vida evangélica é garantida.
São Basílio de Cesarea: GRIBOMONT, J. Saint Basile et la Trinitè. Um acte théologique au IV siècle. Le role da Basile di Césarée dans l´elaboracion de la doctrine et du langage trinitaries. Paris 1998. P. 66
Para se trabalhar em mosaicos maiores se faz indispensável trabalhar em equipe e saber trabalhar deste modo. Aparar arestas, contribuir, somar, ajudar a criar sinergia na equipe, colaboração e parceria entre membros da equipe artística. Valores de uma boa equipe não são nada mais do que se espera dos valores de uma boa comunidade religiosa. Um microcosmo do macrocosmo em que as peças unitárias fazem parte indispensável do todo de modo harmonioso e equilibrado.
Leitura: Mosaico a imagem do universo
https://mosaico.arq.br/blog-artigo/mosaico-a-imagem-do-universo
Mosaico como oferta de sacrifício
O trabalho duro que acompanha indissociavelmente o mosaico é transpassado no seu resultado final. No caso de arte sacra elaborada em mosaico, a técnica artística exige uma quantia considerável de sacrifício e devoção a um arte complexa e laboriosa, em que há a escolha e refinamento dos materiais, a gentileza que é exigida das formas, o conhecimento de simbologia e iconografia. Assim como o trabalho bruto e braçal de fragmentar todas as partes e uni-las de forma conscienciosa através dos dons humanos e divinos manifestados. Desde os primórdios das construções templárias, no século décimo milênio a.c., o respeito aos materiais e às técnicas empregadas demonstram a importância de preparar adequadamente e de forma especial a “tenda do encontro” (ver Gênesis 26 a 27).
No ofertório católico são oferecidos o vinho e pão, ao invés dos animais mortos e queimados assim como o seu sangue. Tanto o pão como o vinho são símbolos do ofertório possíveis apenas na fase do homem agrário, pois são subprodutos derivados dos alimentos vegetais produzidos no pós revolução neolítica da agricultura. A atividade agrária pressupõe trabalho árduo, mas com mais recompensas sociais e coletivas que a fase neolítica anterior de caça e coleta.
Leitura
Genesis 3, 17:
E ao homem declarou: "Visto que você deu ouvidos à sua mulher e comeu do fruto da árvore da qual eu lhe ordenara que não comesse, maldita é a terra por sua causa; com sofrimento você se alimentará dela todos os dias da sua vida.
Ela lhe dará espinhos e ervas daninhas e você terá que alimentar-se das plantas do campo.
Com o suor do seu rosto você comerá o seu pão, até que volte à terra, visto que dela foi tirado; porque você é pó e ao pó voltará".
Gênesis 3:17-19
A agricultura pressupõe trabalho duro, a transformação da matéria do mundo através do nosso trabalho. E o mosaico da mesma forma é matéria do mundo transformado pelo nosso trabalho, portanto um gesto de ofertório enquanto arte sacra.
A terapia do trabalho do mosaico
Durante a produção do trabalho de mosaico temos determinados sentimentos comuns a todos que o experimentam. Muitos relatam um prazer em construir algo, do prazer em construir em comunidade, alguns falam do prazer de quebrar os fragmentos como uma chance de se auto modificarem com a atividade. Também há quem relate a sensação de poder de mudar a matéria, de encontrar harmonia na disposição das formas, entre outros. Dessa forma, os sentimentos que vêm à tona tornam a técnica dessa arte digna de uma arte-terapia, sendo assim também uma forma de desenvolvimento espiritual.
Mais referências:
aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/historia-hoje/historia-mosaico-mais-antigo-do-mundo-e-encontrado-na-turquia.phtml